TRANSMONTAR

Dissertações sobre Trás-os-Montes, seu passado, presente e futuro. Idiossincrasia transmontana e visão do mundo a partir deste torrão.

02 abril 2009

Notas Sobre a Superior Moral Farisaica do Estado

O deficit que a RTP acrescentou, em 2008, ao histórico e crónico passivo das suas contas representa uma performance financeira que não tira o sono ao seu accionista único.
O Estado Português, actor principal da tragicomédia empresarial lusa, acomoda, sem fastio, este e todos os outros passivos trazidos à sua mesa pelos resquícios socializantes das suas participadas.
Enquanto se compraz com estes repetidos exercícios de eficiência de gestão, desanca, simultaneamente, nos gananciosos, exploradores, corruptos e criminosos fiscais que são, a priori, todos os que, do lado privado do bolo económico, insistem em empreender e criar riqueza e redistribuí-la.
Censurando e perseguindo estes, o Estado recolhe o aplauso fácil de todos os medíocres que nunca arriscaram adição de valor na aventura generosa e solidária de fazer avançar o seu pedaço de mundo. De tão afagado pela generalizada aprovação de conveniência, imbuído do espírito épico de missão justicialista, nem repara nos pecados próprios. Negligenciar a seriedade e eficácia de uma gestão responsável, desprezar os resultados da actividade económica pública traduz-se num desleixo pelos interesses dos cidadãos de que é procurador. Esta indiferença acaba, assim, por ferir, patrimonialmente, cada um de nós de uma forma tão ou mais violenta (moralmente ainda merece mais censura!) do que a prática de evasão e fraude fiscal.
Julgando prosseguir fins próprios em vez de ter presente, a toda a hora, a sua qualidade de agente instrumental da edificação da harmoniosa arquitectura social, o Estado supõe poder permitir-se tais liberalidades reiteradas e reclama para si, naquela linha de afirmação da sua alteridade, uma impunidade alheia a qualquer escrutínio.
Inimputável, transmite as responsabilidades da sua conduta dolosa para o cidadão, convidando-o, repetidamente, a participar na cobertura dos riscos e prejuízos por força do incremento paulatino e arbitrário da carga fiscal.