A First Second Life
Milhões de litros de tinta terão sido consumidos na denúncia do défice de legitimidade democrática das instituições europeias. A ratificação de tratados pela via indirecta dos parlamentos nacionais, as nódoas negras francesa, holandesa e irlandesa como entraves ao progresso acelerado de integração terão alcançado a maior unanimidade na crítica à falta de transparência e de democraticidade. Tal oposição justificaria o alheamento dos europeus em relação àquele processo, evidenciado, por estes dias, pela massiva abstenção verificada.
Recentemente, no balanço da refrega eleitoral, li mesmo que se devia abandonar o temor da divergência e do impasse na apreciação das questões substantivas ou estruturais para a regulação da vida comunitária: se nos abstrairmos da polarização nacional, o que quer que se coloque diante dos europeus do norte, do sul, do leste ou do oeste, dos cidadãos da União, produzirá efeitos a partir da aprovação por maioria simples.
Considero aquele esforço contestatário, bem como esta engenhosa tentativa de superação (como apreciá-la num estádio de maturidade política aquém da coerência e coesão de uma construção federal?), um esforço intelectual ingloriamente empenhado.
No actual estado da arte, olho a construção europeia como A fantástica first Second Life. Ao não hipotecar a especificidade da dimensão nacional para fundi-la numa superstrutura estadual, não foi, ainda, superada (e quais as razões para dever sê-lo?) a matriz, politicamente redutora, mas economicamente relevante, de marketplace, de montra de interesses, competências, influências...
Dois planos distintos que repugna pensar que se confundam. Interceptam-se permanentemente, é certo; pode viver-se ora dentro, ora fora daqueles dois universos bem distintos; produzem-se interacções com efeitos relevantes para os modos de vida que se desenvolvem em ambas as plataformas; constroem-se interdependências que inviabilizam qualquer ideia de ruptura ou negação desta dicotomia de mútuo benefício.
Apesar desta inevitabilidade em aprofundamento permanente, não se vislumbra o momento da metamorfose definitiva, da alienação sem retorno a caminho da condição de avatar.
Esta imersão incondicional no plano virtual desmaterializaria o arsenal normativo nacional que tantos entraves, avanços e recuos e atrasos competitivos traz à coesão social, económica, política e da representação externa comuns, mas representaria, também, a dissolução do enquadramento mental e simbólico que resulta das idiossincrasias individuais. Quem quer dar esse mergulho?
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