TRANSMONTAR

Dissertações sobre Trás-os-Montes, seu passado, presente e futuro. Idiossincrasia transmontana e visão do mundo a partir deste torrão.

10 março 2009

PROJECTO DE PODER

Mais do que vender computadores “Magalhães” para a Venezuela e, com isso, equilibrar a Balança Comercial com o exterior; mais do que reforçar a nossa autonomia energética pela diversificação das fontes abastecedoras de gás natural, fazendo convergir para Portugal súbitos interesses comerciais, que a dimensão do mercado interno não justificam, da Gazprom de Putin (via Galp Energia ou Amorim ou ENI, sob mediação do oficiante de Nafarros) e da sua congénere sul-americana, a contrapartida almejada é, antes, a edificação do gasoduto ideológico por onde beberemos o know-how acumulado e testado, que inspire o complexo processo de implantação e consolidação de uma ditadura democrática ou qualquer que seja a designação a achar para a fraude ao poder representativo.
A quebra da coluna vertebral das corporações enquanto sedes informais de poder real: juízes, farmacêuticos, professores, advogados, médicos; a substituição sistemática das cúpulas organizacionais do tecido empresarial por comissários políticos de confiança e a sedução de outros reconvertidos a empresários do regime: bancos, obras públicas, telecomunicações; as nacionalizações que se fazem e as que deixam de se fazer, ambos os movimentos servidos por grosseiro argumentário técnico; a propaganda institucional regionalizada, em permanente itinerância e, em rede de manipulação de caciques locais, a pretexto de lançamentos ou inaugurações de efeito histriónico e a mais recente denúncia de uma tal “campanha negra” são ferramentas claramente extraídas de manuais bolivarianos e/ou kremelinescos, adaptadas à nossa realidade político-social.
Esta última técnica, visando alavancar uma campanha de vitimização, não está a correr como o desejado, mas terão sido pensadas alternativas que minimizam a surpresa. As repetidas tentativas de colagem, ainda que forçada, da oposição à autoria da denúncia “caluniosa” e exploração mediática do caso do “Porto Franco” – nome de código para designar algum offshore? – requeriam uma réplica precipitada e sôfrega por parte de uma oposição inexperiente. Saiu-lhes uma ilusoriamente alheada, matreira, paciente e calculista, apostada em não colaborar na criação de um clima de dramatização, propício à antecipação da agenda eleitoral como requisito necessário para quem desespera por furtar-se à preia-mar da crise económica e social que se advinha.
A surpreendente mudez de uma oposição por uma vez adulta e responsável, motivou a adopção de um “plano B”: - O poder deve ser exercido por quem obteve legitimação eleitoral e não por qualquer director de jornal com as suas campanhas, televisão mais as suas manipulações ou cobarde denunciador e as suas cartas anónimas, gritou o congressista acossado. Trazer para a arena política aqueles players mediáticos associados a alegados caluniadores num combate ilegítimo, antes adequado à tutela judiciária, não se reduz à forma de uma desajeitava investida. A denúncia da apodada “campanha negra” visa silenciar a imprensa independente, não colaboracionista e ”de sarjeta”, contra quem é convocada a censura popular. Já a ascensão ao palco da política visa manter viva a insinuada e nunca provada mácula da oposição, cujo silêncio se pretende que seja lido como maquinação no escuro, em conluio conspirativo com os media. Cabe a estes e àquela perseverar no cumprimento inalienável do papel escrutinador do nosso bom ambiente político-social e na abstinência em respeito pelo princípio da separação de poderes, respectivamente.
E é assim que, um a um, se vão abalando, de forma sistemática e calculada, os pilares da democracia representativa, bem como os seus valores mais caros como a liberdade individual, a livre iniciativa ou a alternância democrática, ao serviço de um projecto político fortemente personalizado e sem fiscalização independente e esclarecida.

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