TRANSMONTAR

Dissertações sobre Trás-os-Montes, seu passado, presente e futuro. Idiossincrasia transmontana e visão do mundo a partir deste torrão.

04 março 2004

As autarquias e a cultura

As autarquias e a cultura

Há uns anos atrás, ouvia-se falar de Tomar como uma região deprimida, vítima da decadência e do desinvestimento nos sectores tradicionais, num quadro que se abatia sobre o emprego local e se agravava à custa da débil diversificação da actividade económica.
De então para cá, não mais ouvi falar da circunstância nabantina, até que, nos últimos dias, se vem apregoando o investimento cultural que visa transformar Tomar num pólo de museus de dimensão europeia e basear num vasto núcleo museológico que preencha o miolo histórico urbano, a partir de um Museu de Arte Contemporânea, com um espólio de poucas dezenas de quadros de uma colecção particular doada, de uma sinagoga, de um Museu desactivado e do Museu dos Fósforos, a candidatura da cidade a capital europeia da cultura em 2012.
Quando tomo conhecimento de tentativas de alavancar o desenvolvimento a partir do investimento financeiro no etéreo capital cultural, coloco-me, prudentemente, numa posição de expectativa céptica. A avaliar pelo que conhecemos por cá — o destino inglório do Parque Arqueológico do Côa, as numerosas apostas culturais das autarquias, traduzidas em centros culturais, bibliotecas, museus e, mais recentemente, teatros — para além de manifestações majestáticas para reverter em votos, o móbil instrumental omnipresente reconduz-se à gestão meticulosa da teia de apoios proporcionada pelo regime de reciprocidade garantido pela traficância de influência e de cargos.
Queira Deus que a ausência de ecos da cidade dos tabuleiros de que me queixava derive do sucesso alcançado na reconversão económica do concelho, pois caso contrário receio que, em terras do Museu dos Fósforos, se estejam a queimar recursos numa feira de vaidades e ilusão.