TRANSMONTAR

Dissertações sobre Trás-os-Montes, seu passado, presente e futuro. Idiossincrasia transmontana e visão do mundo a partir deste torrão.

29 julho 2003

BREVES

BREVES

Casa do Douro: sequela
Em , escrevi que quando a decadência atinge o âmago das nossas instituições de referência, todos actos aparecem como que sintonizados com as malévolas intenções do agente viral que lhes provocará o colapso que esta fase terminal preanuncia. Não há nada a fazer, o organismo e o seu sistema de governo central já não detêm o controlo da situação, nem as suas ordens são obedecidas, sendo caótica a interacção funcional. É a morte que se anuncia e se cumprirá inexoravelmente. Escrevi, em 2 de Julho, a pensar neste desfecho, que assumem protagonismo patético figuras pardas que outra coisa não fazem que reivindicar e protestar em nome de assembleias de desvalidos e descrentes, que os não apoiam já e lhes reconhecem, se perguntados, as incompetências, quando não os aproveitamentos em benefício próprio da posição que aqueles temem perder.
Ao conhecer-se, esta semana, o desfecho da reunião entre a Casa do Douro (CD), em representação dos viticultores, e a AEVP, em nome dos comerciantes exportadores de vinho do Porto, da qual resultou a fixação da quota de produção daquele néctar para a próxima colheita, ficamos diante de mais um acto substantivo do ponto de vista da confirmação da tese que sustento acima.
A redução drástica verificada, no montante de 27 100 pipas, foi defendida, naquele conclave, pela CD, a mesma que escreveu, de seguida, aos viticultores - que, alegadamente, representa - numa tentativa ardilosa de desviar responsabilidades suas para o seu adversário (que, por sinal, apresentara uma proposta menos penalizante).
A táctica empregue de tentar explicar o inexplicável - por que é que os representantes da lavoura duriense se propõem limitar, artificialmente, o quantitativo de mostos a vinificar para vinho do Porto, libertando uma percentagem maior deles para a produção de vinho de mesa, menos remunerado pelo mercado, reduzindo os rendimentos esperados aos seus associados - a não ser suicida, tem de estar ao serviço de uma estratégia oculta.
A CD não está preocupada com a produção, nem com os dramas anónimos dos lavradores que a sustentam. A sua única preocupação são os stocks acumulados, resultantes de uma lógica obsoleta de correcção do mercado, cujos fins acabam por ser opostos aos que visava obter. É por isso que os apresenta aos exportadores como moeda de troca da negociata do benefício que propôs e não foi aceite.
O artifício da redução da oferta por decreto procura provocar o escoamento dos stocks em posse da CD (o ganhos alcançados na sua constituição são delapidados pela sua alienação; os stocks são, hoje, o ladrão da lavoura; a sua alienação inoportuna deveria esperar anos magros de colheita), mas, sobretudo, os das cooperativas, grandes devedores dos viticultores e alfobre de dirigentes da própria CD, casas para onde estes voltarão, mais dia menos dia.
Dizer que se está a trabalhar para conseguir rendimento acrescido para os produtores é uma falácia. Se se verificar insuficiente satisfação da procura pela colheita deste ano, logo se accionarão as ditas reservas para equilibrar a balança. Autoremunera-se a estrutura e a sua ineficiência histórica. E o pequeno agricultor a ver rabelos... Do mal, o menos! Sempre "lucrará" com a medida pelo efeito indirecto de cobrar dívidas de quem não lhe pagou colheitas antigas (os tais que, agora, procuram valorizar a "fazenda"), embora sem juros, nem compensações por mais-valias eventuais. Que tipo de serviço à produção é este?
Ficámos, igualmente, a saber que o decreto olímpico, imperial, salomónico contemplava, ainda, uma limitação cega, indiscriminada da licença de produção de vinho do Porto, sem se ater às epecificidades de escalão qualitativo. As vinhas da região demarcada estão classificadas segundo critérios de qualidade que tomam em conta a sua localização. Foi tornado público que o remanescente não comercializado em anos anteriores pertencia a vinhas de qualidade inferior, sendo que os classe A não satisfizeram a procura e, por isso, não mereciam cortes de benefício. Mais uma distorção administrativa do mercado que não leva em linha de conta o primado da procura e da satisfação do consumidor e com tão fortes implicações no futuro do negócio. Quantos destes atentados se cometeram no passado e qual o seu impacto na economia do país? Que tipo de consciência patriótica é esta?
Estamos ou não a caminho do fim?

Universidade de Bragança: sequela 3
Partiram de Bragança uns excursionistas com destino a Lisboa, no intuito de pressionar o Ministério do Ensino Superior a definir-se quanto à futura universidade daquela cidade.
Não conhecemos os argumentos de pressão empregues, nem se o senhor ministro, coagido pela riqueza gastronómica dos farnéis, teve de empregar parte ou toda a sua imaginação e capacidade negocial para levar os romeiros a aceitarem o compromisso de uma resposta definitiva para daqui a um ano.
Consta que a comitiva vitoriosa teve direito a banda de música na recepção apoteótica preparada pelos milhares de bragançanos suspensos da confirmação de tal opção governativa de que dependem os seus destinos.
Não se intimide, senhor ministro! O presunto não está ameaçado. Decida em consciência, livre e racionalmente. É o que se lhe exige.