TRANSMONTAR

Dissertações sobre Trás-os-Montes, seu passado, presente e futuro. Idiossincrasia transmontana e visão do mundo a partir deste torrão.

20 julho 2003

A Hora das Liderancas

A Hora das Lideranças (actualização)
Já depois de reflectir sobre o programa de desenvolvimento que se anuncia para o Douro, bem como sobre as reacções das entidades locais que manifestaram a sua surpresa e desencanto pelo modus operandi governamental, designadamente a AMTAD e as regiões de turismo, tomei conhecimento da autoria do estudo e da proposta tornada pública na semana passada.
Ao assumir-se como responsável pela elaboração deste dossier, por encomenda do governo, em coluna com a sua assinatura publicada no Diário Económico desta semana, a Deloitte & Touche confirmou, como outros o haviam admitido antes, a mudança de paradigma e método de formulação de soluções para a reforma do estado e para a alteração do modelo de desenvolvimento do país.
Estas mudanças introduzem um conceito de empresariarização da actuação do estado, por via da adopção de modelos de gestão preconizados por consultores externos (outsourcing), que diagnosticam os constrangimentos e apresentam modelos de superação do proverbial atraso português nos quais se apoiam decisões políticas racionais que operacionalizam as reformas prometidas.
Esta moderna conduta política, que parece constituir prática generalizada de todos os departamentos da administração central, caracteriza-se, metodologicamente, pelo desprezo da competência técnica endógena, inimiga da mudança, desmotivada por falta de estímulos e desafios mobilizadores que a condição de progressão pelo mérito poderia alterar.
A utilização de expedientes empresariais na área governativa - também defendida por personalidades tão insuspeitas como o ex-vice-presidente e candidato vencido à Casa Branca, o democrata Al Gore, de que é exemplo o recurso a assessoria externa não vinculada a tradições, vícios e direitos adquiridos e nem enquadrada por grupos de pressão que lhe limitem a liberdade de julgamento e lhe desvirtue o alcance das propostas, até por força da sua matriz multinacional - visa uma aposta em soluções imaginativas e criativas para a resolução de problemas e a eficiência da acção política. Esta, que no âmbito da empresa tem tradução prática no respeito pelo accionista, na esfera do estado, concretiza-se no apreço pelo contribuinte e pelo seu investimento financeiro e de confiança naquela.
O distanciamento crítico, desapaixonado e a objectividade racional que está em causa nesta estratégia de investimento a desenvolver no Douro, não podia deixar de incomodar os protagonistas locais do costume.
Este exercício de liberdade e legitimidade protagonizado pelo governo, sob proposta de Deloitte & Touche, deve ter tido em conta as conclusões extraídas de um outro estudo, transversal, de auditoria ao funcionamento do sistema autárquico português, realizado por este mesmo consultor. Tal análise, datada de Setembro de 2002, a que poucos terão dado atenção e a que ninguém terá detectado importância e alcance prático na perspectiva da reforma do tecido municipal, concluiu que as câmaras, em geral, gastam demasiado, funcionam mal e resistem à mudança.