Proposta
Proposta
Com as magnas questões que lhe preenchem a mesa e o espírito, o senhor ministro da economia não deve conseguir dispor de tempo para ler blogues e, mesmo que eu esteja errado, arrisco declarar improvável o interesse pelo que escrevo.
Mas não será a consciência desta realidade que me impedirá de arriscar uma sugestão (já que o estado da arte me permite este excelentíssimo meio de comunicação, aproveito para, antes da sugestão, sugerir a reflexão: o governo socialista introduziu uma alteração orgânica aos organigramas ministeriais antecedentes e que se traduziu na concentração numa única pasta das competências executivas das políticas económicas; o actual primeiro-ministro manteve, acertadamente, a mesma orientação; um e outro não tiveram coragem suficiente para meter lá a regulação de todas as actividades económicas, deixando de fora a agricultura. Porquê? Numa leitura com o seu quê de subversivo, sempre se poderá responder que a agricultura já não é uma actividade económica, mas antes uma manifestação externa do estado assistencialista que, por pudor, não se enquadra sob a tutela da segurança social; ou uma ocupação territorial de manutenção instável de equilíbrios ecológicos, subvencionada, (in)consequentemente, por fundos comunitários e estatais).
Voltemo-nos, então, para a sugestão anunciada. São muitos os desafios ao empreendedorismo, frequentemente acompanhados pelo anúncio de apoios, sendo que os da moda são a "banha da cobra" do capital de risco. De tão apregoado não se compreende por que razão os seus fundos disponíveis, embora relativamente modestos, não obtêm a procura que se desejaria. Será que o capital de risco, tal como se pratica, é compatível com a realidade do micro/pequeno projecto defendido por um jovem empreendedor que nele pense para a empresarialização da sua ideia de negócio? Penso que não, a não ser que estejamos a falar de start-ups tecnológicas, apesar dos frequentes flops conhecidos (Altitude Software, ParaRede e até a PT Multimédia, antes da "limpeza" do balanço pela casa-mãe). O sistema de apoio ao empreendedorismo assente no capital de risco enferma do preconceito de base que o faz recusar a apreciação de projectos que, embora de alguma maneira inovadores, se insiram em sectores de actividade tradicionais. Por mais que o sr. Porter justifique apostas em clusters tradicionais! Outra característica do capital de risco é a sua insensibilidade para aderir a business plans modestos do ponto de vista financeiro, como o são a generalidade das ideias defendidas por jovens empreendedores e a realidade empresarial transmontana em geral.
Fora disto, sobra o crédito tradicional sempre vedado a jovens idealistas descapitalizados, já que business angels nem com uma lupa se encontram. Quantas pequenas ideias se perderão diante da inacessibilidade do capital! Quanto desenvolvimento adiado induzível por perscrutadores de oportunidades!
Depois deste intróito de contextualização, sirva-se a proposta propriamente dita. Consubstancia-se na criação de uma estrutura pública, dotada dos meios necessários à incubação de propostas empresarializáveis, submetidas à sua análise por promotores carenciados de capitais iniciais que as alavanquem. Teria, em paralelo, características de academia, onde o empreendedor se municiaria das competências necessárias à sua condição de empresário, designadamente nas áreas jurídica, financeira, comercial e marketing, organizacional, pensamento estratégico, investigação e desenvolvimento, internacionalização de negócios, etc..
A esta entidade de fomento empresarial seria confiada a responsabilidade exclusiva de liderar a primeira fase do desenvolvimento dos projectos e sua operacionalização no mercado, de acordo com a definição do business plan.
Depois de provar as suas potencialidades, no concreto da economia real, a nova empresa seria entregue ao seu "criador" (que, entretanto, se dotara das ferramentas de gestão necessárias à assunção das responsabilidades e acompanhara de perto todas as vicissitudes iniciais) em condições ideais de sobrevivência. O serviço prestado pela incubadora seria remunerado pelo reembolso do investimento, por inteiro e por prazo a negociar de acordo com as taxas de rendibilidade do negócio, acrescido de um prémio, até 10% do valor investido. Operações, estas, destinadas a autofinanciar o sistema.
Nos casos em que a implementação não atinja o sucesso esperado, excepções que servem para provar a regra atendendo ao elevado potencial de conhecimento de tal agência, o empreendedor responderia solidariamente numa percentagem não superior a 25% do investimento perdido.
P.S. Ao escutarmos o anúncio de mais um plano de desenvolvimento para a região do Douro e Trás-os-Montes, não posso deixar de exteriorizar o sentimento de descrença e desconfiança na presença do enésimo projecto conhecido.
Esta posição, que não revela mais que perspectiva histórica e prudência, deixa lugar para o espanto, a revisão da opinião e o reconhecimento se, no final, aquilo que pouco promete acabar por cumprir. Num ponto este programa inova. Desta vez, ele não surge gerado pela negociação ou arbitragem de interesses ou audição das "aspirações profundas" das nossas gentes, que, habitualmente, mais não são que somatório incoerente e inconciliável de pacotes de investimentos improdutivos apresentados pelos eleitos locais, numa lógica de sobrevivência política, à revelia ou sem caução das populações cujos interesses dizem interpretar. Desta vez, imposto de cima, liderado por gente que já provou, sem ponderações paralizadoras, talvez o dito vingue.
Já agora, uma vez assumidos os custos de contexto, sugere-se que um deles, a acessibilidade, seja pago pelo primeiro aeroporto da região.
Com as magnas questões que lhe preenchem a mesa e o espírito, o senhor ministro da economia não deve conseguir dispor de tempo para ler blogues e, mesmo que eu esteja errado, arrisco declarar improvável o interesse pelo que escrevo.
Mas não será a consciência desta realidade que me impedirá de arriscar uma sugestão (já que o estado da arte me permite este excelentíssimo meio de comunicação, aproveito para, antes da sugestão, sugerir a reflexão: o governo socialista introduziu uma alteração orgânica aos organigramas ministeriais antecedentes e que se traduziu na concentração numa única pasta das competências executivas das políticas económicas; o actual primeiro-ministro manteve, acertadamente, a mesma orientação; um e outro não tiveram coragem suficiente para meter lá a regulação de todas as actividades económicas, deixando de fora a agricultura. Porquê? Numa leitura com o seu quê de subversivo, sempre se poderá responder que a agricultura já não é uma actividade económica, mas antes uma manifestação externa do estado assistencialista que, por pudor, não se enquadra sob a tutela da segurança social; ou uma ocupação territorial de manutenção instável de equilíbrios ecológicos, subvencionada, (in)consequentemente, por fundos comunitários e estatais).
Voltemo-nos, então, para a sugestão anunciada. São muitos os desafios ao empreendedorismo, frequentemente acompanhados pelo anúncio de apoios, sendo que os da moda são a "banha da cobra" do capital de risco. De tão apregoado não se compreende por que razão os seus fundos disponíveis, embora relativamente modestos, não obtêm a procura que se desejaria. Será que o capital de risco, tal como se pratica, é compatível com a realidade do micro/pequeno projecto defendido por um jovem empreendedor que nele pense para a empresarialização da sua ideia de negócio? Penso que não, a não ser que estejamos a falar de start-ups tecnológicas, apesar dos frequentes flops conhecidos (Altitude Software, ParaRede e até a PT Multimédia, antes da "limpeza" do balanço pela casa-mãe). O sistema de apoio ao empreendedorismo assente no capital de risco enferma do preconceito de base que o faz recusar a apreciação de projectos que, embora de alguma maneira inovadores, se insiram em sectores de actividade tradicionais. Por mais que o sr. Porter justifique apostas em clusters tradicionais! Outra característica do capital de risco é a sua insensibilidade para aderir a business plans modestos do ponto de vista financeiro, como o são a generalidade das ideias defendidas por jovens empreendedores e a realidade empresarial transmontana em geral.
Fora disto, sobra o crédito tradicional sempre vedado a jovens idealistas descapitalizados, já que business angels nem com uma lupa se encontram. Quantas pequenas ideias se perderão diante da inacessibilidade do capital! Quanto desenvolvimento adiado induzível por perscrutadores de oportunidades!
Depois deste intróito de contextualização, sirva-se a proposta propriamente dita. Consubstancia-se na criação de uma estrutura pública, dotada dos meios necessários à incubação de propostas empresarializáveis, submetidas à sua análise por promotores carenciados de capitais iniciais que as alavanquem. Teria, em paralelo, características de academia, onde o empreendedor se municiaria das competências necessárias à sua condição de empresário, designadamente nas áreas jurídica, financeira, comercial e marketing, organizacional, pensamento estratégico, investigação e desenvolvimento, internacionalização de negócios, etc..
A esta entidade de fomento empresarial seria confiada a responsabilidade exclusiva de liderar a primeira fase do desenvolvimento dos projectos e sua operacionalização no mercado, de acordo com a definição do business plan.
Depois de provar as suas potencialidades, no concreto da economia real, a nova empresa seria entregue ao seu "criador" (que, entretanto, se dotara das ferramentas de gestão necessárias à assunção das responsabilidades e acompanhara de perto todas as vicissitudes iniciais) em condições ideais de sobrevivência. O serviço prestado pela incubadora seria remunerado pelo reembolso do investimento, por inteiro e por prazo a negociar de acordo com as taxas de rendibilidade do negócio, acrescido de um prémio, até 10% do valor investido. Operações, estas, destinadas a autofinanciar o sistema.
Nos casos em que a implementação não atinja o sucesso esperado, excepções que servem para provar a regra atendendo ao elevado potencial de conhecimento de tal agência, o empreendedor responderia solidariamente numa percentagem não superior a 25% do investimento perdido.
P.S. Ao escutarmos o anúncio de mais um plano de desenvolvimento para a região do Douro e Trás-os-Montes, não posso deixar de exteriorizar o sentimento de descrença e desconfiança na presença do enésimo projecto conhecido.
Esta posição, que não revela mais que perspectiva histórica e prudência, deixa lugar para o espanto, a revisão da opinião e o reconhecimento se, no final, aquilo que pouco promete acabar por cumprir. Num ponto este programa inova. Desta vez, ele não surge gerado pela negociação ou arbitragem de interesses ou audição das "aspirações profundas" das nossas gentes, que, habitualmente, mais não são que somatório incoerente e inconciliável de pacotes de investimentos improdutivos apresentados pelos eleitos locais, numa lógica de sobrevivência política, à revelia ou sem caução das populações cujos interesses dizem interpretar. Desta vez, imposto de cima, liderado por gente que já provou, sem ponderações paralizadoras, talvez o dito vingue.
Já agora, uma vez assumidos os custos de contexto, sugere-se que um deles, a acessibilidade, seja pago pelo primeiro aeroporto da região.
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