TRANSMONTAR

Dissertações sobre Trás-os-Montes, seu passado, presente e futuro. Idiossincrasia transmontana e visão do mundo a partir deste torrão.

13 julho 2003

Hora das Liderancas

A Hora das Lideranças
Em 11 de Julho escrevi um post-sriptum acerca do novo plano de desenvolvimento, proposto pela API do Dr. Cadilhe num golpe de surpresa que deve ter surtido o efeito desejado de uma iniciativa militar não antecipável pelo inimigo.
A reportagem do semanário Lamego Hoje, edição de 10/07/2003, acaba de noticiar a incomodidade dos líderes regionais por desconhecerem a matéria, por não terem sido solicitados a participar na sua elaboração ou na sua apreciação prévia, por não terem sido convidados a estar presentes ao acto da sua apresentação pública. Fazendo apelo à releitura do breve comentário a que aludi no início deste post e confrontando o que dissera com as reacções agora conhecidas, fica clara a implícita censura aos pequenos protagonistas de campanário.
Concebido de forma original, ousada e deliberadamente contra ou apesar das designadas "forças vivas" da região, não repetindo gestos subservientes que, no passado, se destinavam a mitigar a má consciência dos governantes por se sentirem responsáveis pelo atraso histórico que vivemos, saúda-se esta proposta pelo que representa de autonomia responsabilizante no gizar de uma estratégia coerente e global.
Tendo tudo para provar e muitos obstáculos a vencer, o plano terá a sua viabilidade condicionada pela capacidade, que terá ou não, de resistir às pressões de partilha, apropriação e desvirtuação que se farão sentir desde já.
É, novamente, hora de Sebastião José de Carvalho e Mello e não dos pequeninos sargentinhos de chumbo, ineptos para delinear qualquer estratégia integrada e alternativa. Profissionais destas lides, com anos de carreira e séquitos numerosos de subalternos a congeminar mais rotundas, jardins, festas, feiras, futebol e romarias e, novidade, pavilhões multiusos para os seus feudos, provaram a sua incapacidade para levantar voo e lá do alto, de onde a mesquinhez dos seus interesses rivais fica mais obvia, contemplarem a grandeza moral, a honra, a resistência e a vontade indómita do "reino maravilhoso", matriz inspiradora de um pacto de desenvolvimento colectivo, de Montalegre a Foz Côa, de Miranda a Lamego. Agora que se vislumbra uma nova oportunidade, nos seus olhos cintila uma gamela e nas suas declarações o azedume de quem não teve lugar no festim.
Intuíram a necessidade de eleger o turismo como pilar estruturante do desenvolvimento. Acharam-se visionários! Tratam logo de colocar os seus homens (e mulheres) de mão nos lugares-chave das Regiões de Turismo. É analisar-lhes os currículos, a estes delegados militantes: professores, políticos, professores do ensino básico e outras competências igualmente recomendáveis para o exercício da função. Cumpre-se esta por entre eventos tão reprodutivos do ponto de vista da receita e da promoção como o são as mostras de produtos da terra e as delegações à feira de Santarém, da serapilheira e da ráfia à laia de bazar marroquino; tão genuínos como os campeonatos de jet-ski; tão originais e invulgares como as ceias medievais de produção castelhana.
Uma aposta como esta com que agora nos confrontamos exige profissionalismo, racionalização de maios e prioridades e submissão a uma ideia, uma única, um pacote turistico a colocar no mercado. Impõe-se criar um conceito turístico, uma imagem e promovê-la de forma sistemática, afastando do caminho pessoas e processos amadores que desbaratam recursos, que apoiam de forma casuística, sem avaliação do mérito e desmotivam, quando não hostilizam, empreendedores e projectos.
Não se compreende que não saibamos analisar modelos que funcionam e copiar deles as virtudes. Uns paralelos mais a sul, dentro da oferta "sol-e-praia", uma única região turística ocupa-se da "venda" de uma superfície territorial de dimensão semelhante à área de intervenção do programa da API, o vale do Douro. Aqui, para o mesmo objectivo "comercial", temos cinco Regiões interlocutoras, cada qual a superlativar as suas potencialidades e especificidades de costas voltadas para as restantes.
É a hora das decisões e das escolhas! É hora de conhecermos de que massa são feitos os protagonistas que responderão por umas e outras; de saber se, como em outros momentos da história, não podendo, o povo, ser o motor das transformações e da ruptura, poderemos manter a esperança de ser conduzidos, ciclicamente, por grandes lideres. A propósito das opções que se aguardam, foi tornado público um ambicioso programa de investimentos em acessibilidades: 1700 milhões de euros em estradas, caminhos de ferro e arranjo de aeródromos. Já antes me comprometi com a oposição a esta ideia de "divisão do mal pelas aldeias" que parece inspirar o investimento nos aeródromos. Não seria melhor dotar a região de uma infra-estrutura, uma única, com mais valências e capaz de desempenhar um papel de interface com a rede viária e o a via férrea?

P.S. O Transmontar já suscitou o interesse de leitores atentos. Destes, quero destacar Paulo Cardoso, director do Lamego Hoje. Foi generoso na apreciação do que escrevo; solicitou autorização para publicar e o resultado do nosso entendimento está patente no último número daquele semanário. Estou-lhe grato pelo gesto e pela amplificação obtida para as minhas ideias e sempre disponível, em nome dos interesses de Trás-os-Montes.