TRANSMONTAR

Dissertações sobre Trás-os-Montes, seu passado, presente e futuro. Idiossincrasia transmontana e visão do mundo a partir deste torrão.

24 janeiro 2004

Contrito me confesso

Contrito me confesso

Esta semana, ao tomar conhecimento do real desequilíbrio da conta-corrente que liga o continente à Região Autónoma da Madeira, a exigir urgente e surpreendente acerto a crédito desta, verifiquei, uma vez mais, como nos atraiçoam as ferramentas sensoriais e cognitivas próprias e como é falível qualquer juízo de valor nelas assente. Enfatizando, embora, o quão esta constatação nos diminui, menos verdadeira e reconfortante não será a crença na nobre capacidade de, uma vez assumida a falta, rogar perdão. É a estes trabalhos que me devoto desde já. Aguardo ser compreendido.
Com efeito, andei anos enredado na inabalável convicção de que vogava, anafado e altivo o jardim ilhéu, mamando, indiferente a mugidos alheios, a limousine açoriana, os bovídeos minhotos, os transmontanos ou o exangue úbere orçamental e eis, agora e de súbito, o inusitado sobressalto das certezas sacudidas. Deve o credor ao caloteiro com uma cambalhota pelo meio. Atentai, senhores, a esta história de pasmar!
A postura circunspecta, aprumada, enformando o perfil de estadista até ao limite da resistência estóica das costuras, quis despertar-me para a capital relevância histórica do momento da comunicação pública e convencer-me da sua adequação à singular mudança. A chancela da senhora ministra fez o resto.
Já para quem releva o passado — os “gentios” de Lisboa, da imprensa ou outros, que não eu, bem entendido! — e a recente pincelada autobiográfica — “(...) sou uma velha meretriz, já perdi a vergonha...” — e acredita na próxima erosão carnavalesca da credibilidade ora demonstrada, desconfiará das intenções da pose e circunstância desta prodigiosa inversão, reduzindo-a a mero efeito de marketing eleitoral. Quão inglório fim e quão injusto o cepticismo! À consideração do consultor...