TRANSMONTAR

Dissertações sobre Trás-os-Montes, seu passado, presente e futuro. Idiossincrasia transmontana e visão do mundo a partir deste torrão.

21 janeiro 2004

À boleia do Funicular

À boleia do Funicular

Quis o Tempestade Cerebral (TC) responder ao meu repto comentando mais um esclarecedor exemplo da imprescindibilidade e infalibilidade da gestão autárquica.
Depois da minha denúncia, este outro excelente olhar exercita uma grelha de leitura que complementa, sustenta e legitima as nossas posições, bem como o estilo bloguista que ambos praticamos: a intervenção crítica na análise socio-económica da política numa perspectiva reformadora de inspiração liberal.
Esta justificação para a nossa presença na blogosfera contrasta e escandaliza-se com outras que se auto afirmam, definem e orientam pelo distanciamento discriminatório de desvalorização dos temas jurídicos e económicos. Mas subalternizar este universo de interdependências, por onde pulsa grande parte da vida do homem actual, significa, frequentemente, abraçar a escaramuça estéril da guerrilha política.
Este espírito de missão, glosado por muitos, mesmo os líderes de audiência deste novel canal, não garante resultados na dimensão da transformação social, mas é um imperativo a que não resistimos.
Voltando à esfera concreta da acção autárquica ora em apreço, concluiu o TC que “a julgar pela data de conclusão da obra (2005) e a data das eleições autárquicas (também 2005???) posso facilmente ‘adivinhar’ qual o retorno pretendido pelo ‘seu’ investimento: votos para o reeleger!!!”. Também nós acreditamos que foi tomado em conta o custo de oportunidade, bem como as aplicações alternativas — aquelas que o TC enumerou ou muitas outras declinações delas — apesar de a decisão, fundamentada em critérios de maximização do “benefício”, não poder ser diferente: nenhuma utilização opcional do capital atingiria tal grau de satisfação do ponto de vista do fim único da acção política. Convenhamos que é o fim merecido para uma tão eficiente gestão do risco e do cronograma do projecto...
Ao contrário da lógica empresarial, em que o objectivo último que norteia a actuação do gestor é a satisfação objectiva dos interesses do accionista, nestes meandros da trapaça política local a estratégia passa, apenas, pelas conveniências particulares do decisor, reservando-se para a satisfação do interesse público uma verificação ilusória ou, em momentos de rara fortuna, uma ocorrência que brota do acaso.
Se na circunstância paradigmática do Dr. Fernando Ruas, atendendo à sua formação de base, à sua longa experiência e, especialmente, tendo em conta a qualidade de representação dos municípios portugueses que exerce, se afastam, de forma óbvia, os argumentos de deficit de preparação ou da dimensão e qualidade da representatividade do regime autárquico, o que nos falta para pôr em causa, definitivamente e sem remorso, o maior tabu da democracia portuguesa e a sua desadequada resposta aos problemas da governação regional do século XXI? O que nos faltará para que manifestemos total indignação pela temerosa reforma administrativa que se está a implantar, assente no esteio duma solução caduca?