TRANSMONTAR

Dissertações sobre Trás-os-Montes, seu passado, presente e futuro. Idiossincrasia transmontana e visão do mundo a partir deste torrão.

23 setembro 2003

Encontro de Autarcas Transmontanos

Encontro de Autarcas Transmontanos

O Público, edição de 22 de Setembro de 2003, anuncia um encontro, em Mirandela, de autarcas transmontanos para debate acerca da criação de Comunidades Urbanas, esse nó cego administrativo recentemente criado por este governo e sobre o qual já me debrucei na contribuição apresentada para uma reforma administrativa, parte I e II.
Pelo que li, só posso concluir que se mantêm actuais as reservas apontadas àquele expediente. Acendalha de todos conflitos, mesmo os mais adormecidos ou mantidos em lume brando, queimará, antes do aprendiz de feiticeiro que o ateou, todos os caudilhos locais na luta encarniçada pelo protagonismo a conquistar ou a manter e consumirá tudo o que resta da confiança na política como instrumento de resolução de problemas e de criação de soluções.
Sobre a mesa, em posição de desafio à gula dos anafados presentes, encontra-se Trás-os-Montes e Alto Douro em forma de queijo. Enquanto afiam os gumes dentários, aqueles travam-se de razões acerca de abocanhá-lo inteiro ou tragá-lo aos pedaços num gesto de inesperado requinte (ou será malvadez?): teremos uma única área metropolitana ou duas comunidades urbanas, agrupando uma os município ribeirinhos do Douro e a outra o Alto Trás-os-Montes? Do lado dourado da lua luta Vila Real, pela montanha bate-se, hirsuta, Bragança. Uma chega das antigas está na calha.
Posto isto neste terreiro das festas, procurei estar presente à contenda, mas logo me informaram do carácter reservado de tal acto. Já tenho obrigação de conhecer o estilo secreto e a arte de manobrar nas costas do povo, tomado por néscio, dos nossos queridos lideres, mas para cada nova iniciativa parto de alma lavada acreditando ser desta que à sociedade civil é dada voz e com ela e para ela se geram soluções. Tanta ingenuidade!
Mais tarde, fiquei a conhecer os resultados. Teria estado representado, apenas, o lado montanhês, mais atrasado nas questões negociais da partilha. Quanto a deliberações não teriam sido de monta, já que entre avançar para a comunidade urbana prevista e forçar a aceitação, pelos durienses, da área metropolitana global parece não ser fácil o consenso. Aguardam-se novos capítulos desta batalha que, pelo céu plúmbeo de Outono destemperado, se adivinha feroz.